segunda-feira, setembro 29, 2025
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Manipular Resultado Virou Negócio


Entre a Paixão e a Aposta.. (Foto: Divulgação)

O futebol brasileiro vive hoje a sua “Era das Apostas”. E diferente da “Máfia da Loteria” dos anos 80 e da “Máfia do Apito” nos anos 2000, agora não precisa de um esquema cinematográfico: basta um cartão amarelo, um pênalti forçado ou uma substituição “planejada”. E um jogador. Um só.

Ou melhor: vários. Ao mesmo tempo.

Porque o novo modus operandi das quadrilhas é mais ousado: o aliciamento múltiplo.

Funciona assim: o grupo combina com cinco ou mais atletas que vão receber cartão amarelo na rodada. Apostas múltiplas são feitas com essa combinação, espalhadas em vários CPFs. O risco de erro é mínimo. O lucro, bilionário. E pra garantir o “cumprimento do combinado”, tem atleta que recebe adiantamento e vira recrutador de colegas.


			
				Manipular Resultado Virou Negócio
Como apostas múltiplas, adiantamentos e aliciamento estão corroendo o futebol brasileiro.. (Foto: Divulgação)

Quer prova?

Lembra do jogo entre Fluminense e Goiás, no Brasileirão de 2022?

Partida empatada até os 6 minutos do segundo tempo. Dadá Belmonte é expulso após entrada dura em Ganso. O Fluminense faz três gols na sequência. Em mensagem obtida pelo Ministério Público de Goiás, um apostador confirma: “o cartão foi combinado”.

Essa é a nova face do problema. E ela já está no nosso quintal.

A verdade é que preservar a lógica desportiva e a integridade das apostas é um desafio monumental. Só no Brasil, são quatro divisões nacionais, dezenas de estaduais e milhares de partidas por ano. É um sistema imenso, com muitos agentes, informações que circulam soltas e uma estrutura de controle ainda amadora.

Como blindar um ambiente assim?

Com a regulamentação das apostas no Brasil, o dinheiro entrou sem freio. Marketing pesado, patrocínios em massa, cifras monumentais. Mas cadê o investimento em rastreamento de dados? Cadê o aparato de inteligência? Cadê o cuidado com o torcedor? Quem fiscaliza ?

Felipe Luís, que sempre falou com lucidez, foi direto: “As apostas são a droga da vez. Um dia vamos olhar pra trás como olhamos pros patrocínios de cigarro na Fórmula 1: e pensar ‘como deixaram isso acontecer?’”

Sim, as bets vieram pra ficar.

Mas é urgente colocar freios.

Não apenas pra proteger o jogo — mas pra salvar o torcedor.

Pra cuidar de quem aposta compulsivamente, de quem transforma o gol do time num bilhete de loteria.

E, principalmente, pra punir quem aceitou transformar amor em estatística.

Sou do tempo em que futebol era jogado pra vencer — e não pra cumprir odd.

Se ainda restam dúvidas, é só prestar atenção: tem sempre alguém do “núcleo do atleta” que sabe quem vai tomar o terceiro amarelo, quem tá pendurado, quem vai ser poupado.

E quando essa informação escorre pela rachadura do sistema, o jogo já tá vendido.

A verdade? O jogo tá sendo feito.

E o prejuízo não é só técnico. Nem só moral.É humano.

Porque além de manchar a credibilidade do esporte, as apostas descontroladas alimentam um vício silencioso que consome famílias inteiras. Mexem com quem vive o futebol na arquibancada, no radinho, na pelada do fim de semana.

Manipular resultado é mexer no cerne da paixão nacional.

É trair o torcedor que ainda acredita que tudo se resolve dentro das quatro linhas.É transformar emoção em algoritmo. Amor em aposta. Craque em cúmplice.E isso, meu amigo, não tem VAR que conserte.



Glazetaweb

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