Motoristas e passageiros denunciam uso de contas falsas nas plataformas de transporte por aplicativo — Foto: Reprodução
Anúncios de vendas de contas falsas em aplicativos de transporte, como Uber e 99, são facilmente encontradas nas redes sociais, com valores que variam de R$ 150 a R$ 500. Os falsos vendedores prometem contas para quem já foi banido das plataformas e até para quem não possui carteira de habilitação. Na Grande Fortaleza, o uso…
Anúncios de vendas de contas falsas em aplicativos de transporte, como Uber e 99, são facilmente encontradas nas redes sociais, com valores que variam de R$ 150 a R$ 500. Os falsos vendedores prometem contas para quem já foi banido das plataformas e até para quem não possui carteira de habilitação.
Na Grande Fortaleza, o uso de contas falsas é denunciado por motoristas que também reclamam das fraudes para elevar as tarifas dinâmicas. O problema das tarifas se soma às irregularidades já conhecidas por eles: perfis de falsos motoristas criados para quem não se adequa aos critérios das plataformas.
Com ofertas encontradas em uma busca simples nas redes sociais vinculadas à Meta, os anunciantes prometem aos interessados criar contas falsas para diversas situações. Dentre elas, para:
- Condutor que tem veículo mais antigo do que os anos aceitos pelas empresas de aplicativo
- Quem está com a documentação do veículo atrasada
- Quem não possui a Carteira Nacional de Habilitação (CNH)
- Quem não possui habilitação com atividade remunerada (a sigla EAR, que significa ‘Exerce Atividade Remunerada’ na carteira de habilitação)
- Condutor que já foi banido das plataformas.
Conforme os supostos vendedores, a pessoa que adquirir o serviço ilegal terá a conta falsa feita com a própria foto, o primeiro nome e a conta bancária vinculada. O g1 entrou em contato com dois destes anunciantes.
Os envolvidos podem ser autuados pelo crime de falsidade ideológica. A prática é considerada proibida pelas empresas e, se identificada, pode levar ao banimento das contas.
Promessa de contas liberadas no mesmo dia
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O g1 entrou em contato com dois desses anunciantes com contatos encontrados nas redes sociais, em anúncios publicados para quem acessa tendo Fortaleza como localização.
O primeiro usa um número com DDD de Amazonas. Por mensagens do WhatsApp, o vendedor respondeu que estava comercializando apenas contas da 99.
“A Uber caiu faz tempo, a conta não dura e não vendo”, disse o anunciante à reportagem.
O anunciante oferece uma conta falsa de carro ou moto da 99 por R$ 400, sendo R$ 50 de entrada, além de sete pagamentos diários de R$ 50, quitados somente após a conta ficar ativada no celular do comprador.
O anunciante destaca que não é necessário a pessoa ter habilitação ou o veículo em dias para obter a conta. Ele ainda alerta que, se o comprador não realizar o pagamento, terá o veículo bloqueado pelo vendedor da conta falsa.
“O não pagamento fazemos o bloqueio permanente da conta e aplicamos multas no veículo.”
Como referência da garantia do serviço ilegal, o vendedor disponibiliza o link de um grupo com mais de 180 participantes que, segundo ele, já contrataram o serviço.
Outro anunciante, com DDD do Rio de Janeiro, oferece as contas por R$ 250, se for para a plataforma 99. O valor é de R$ 450 se for para Uber, com promessa de liberação da conta falsa em 2 horas.
“Sem habilitação usamos conta fake. Nunca tivemos problema. Tem pessoas trabalhando há mais de dois anos na plataforma”, disse o anunciante.
Ao ser questionado se há algum risco de adquirir a conta fake, o vendedor admite que existe a possibilidade.
“Isso acontece muito. Esses camaradas que fazem essas contas fake vivem disso mesmo. Eles pegam um veículo que não tá dentro do prazo, porque a plataforma bloqueia [um modelo mais antigo] imediatamente. Só que ele manda a foto como se fosse de 2020, consegue burlar o sistema”, conta o motorista.
Outras práticas apontadas por ele são de motoristas que alugam contas de terceiros, também considerada uma forma de comercialização dos perfis da plataforma, e a circulação de condutores sem habilitação.
Crime de falsidade ideológica
Com a inserção de dados falsos nos sistemas das plataformas, as pessoas envolvidas com a comercialização e utilização das contas falsas podem responder pelo crime de falsidade ideológica.
Previsto no artigo 299 do Código Penal, o crime consiste em omitir informações ou inserir declarações falsas ou indevidas em documentos públicos ou particulares com o fim de prejudicar ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
A pena para o crime de falsidade ideológica é de prisão de 1 a 5 anos e multa para documentos públicos. Para documentos privados, a pena é de 1 a 3 anos de prisão, além de multa.