sexta-feira, junho 20, 2025
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Após falas ofensivas da defesa contra vítima, réu é condenado a 27 anos e um mês de reclusão por feminicídio de farmacêutica


O Tribunal do Júri condenou no início da noite desta segunda-feira, 26, o réu Cícero Messias da Silva Júnior a 27 anos e 1 mês de reclusão pelo assassinato da farmacêutica Marcelle Bulhões durante o carnaval de 2023, no Conjunto Village Campestre, no bairro Cidade Universitária, parte alta de Maceió, crime enquadrado como feminicídio. A…

O Tribunal do Júri condenou no início da noite desta segunda-feira, 26, o réu Cícero Messias da Silva Júnior a 27 anos e 1 mês de reclusão pelo assassinato da farmacêutica Marcelle Bulhões durante o carnaval de 2023, no Conjunto Village Campestre, no bairro Cidade Universitária, parte alta de Maceió, crime enquadrado como feminicídio. A pena deverá ser cumprida inicialmente em regime fechado.

A juíza Juliana Batistela Guimarães acatou todas as três qualificadoras apresentadas pelo Ministério Público (motivo fútil, torpe – feminicídio – e por recurso que impossibilitou a defesa da vítima) e não aceitou, em sua totalidade, a atenuante da confissão, classificando o crime como resultado de uma “briga”, e não como algo assumido plenamente pelo réu.

Postura da defesa do réu causa revolta

O julgamento, que já era marcado pela comoção em torno do caso, ganhou ainda mais repercussão pelas declarações do advogado de defesa, José Roberto Andrade de Souza. Segundo informações do Minsitério Público de Alagoas (MPAL), em sua sustentação oral, ele tentou justificar o crime afirmando que seu cliente “perdeu a cabeça” após ser supostamente agredido pela vítima. “Qualquer homem perde a cabeça quando é agredido por uma mulher”, afirmou, chegando a dizer que Marcelle o teria xingado com palavras de baixo calão.

Ascom MPAL

Réu Cícero Messias da Silva Júnior a 27 anos e 1 mês de reclusão

O advogado também tentou inverter a lógica da acusação: “Não era ele quem a perseguia, era ela quem o perseguia”, disse, num discurso que minimizou o histórico de violência e chegou a ironizar a Lei Maria da Penha. “Inventaram que precisava de uma lei, criaram; depois que tinha que agravar, agravaram; depois que a mulher precisava de medidas protetivas, fizeram. E não adiantou nada”, declarou. Segundo ele, pesquisas mostrariam que “a mulher agride mais o homem do que o homem a mulher”, argumentou.

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A juíza interrompeu o advogado em determinado momento, repreendendo-o por suas falas ofensivas. “Eu sou mulher e o senhor respeite as mulheres. O senhor está ofendendo as mulheres e as pessoas homoafetivas. Respeite a família e todas as pessoas que aqui se encontram”, disse, em tom enérgico.

A defesa também comparou o crime a uma simples discussão no trânsito e tentou sensibilizar os jurados ao falar da condição do réu. “Júnior já sofreu demais passando dois anos na cadeia, com a perda dos bens, com o nome jogado na lama. Então vocês têm o poder de permitir que ele saia daqui pela porta e recomece a vida dele”, declarou. Em outro momento, o advogado chegou a citar passagens bíblicas e a morte de Cristo para argumentar pela absolvição do réu.

Leia também: Durante júri, testemunhas revelam dinâmica do feminicídio da farmacêutica Marcelle Bulhões

A acusação, encabeçada pelo promotor de Justiça Tácito Yuri, rebateu com firmeza: “Quem teve sentença perpétua foi a vítima. Não se sustenta nada do que a defesa falou aqui. Tratar o homem como coitadinho e dizer que não houve intenção? A narrativa da defesa é um castelo de cartas”, afirmou o promotor, que ainda lembrou que “não há laudo que comprove que ele foi machucado pela vítima, mas há laudos sobre o estrago que ele fez nela”.

O promotor ainda destacou que “quem está sofrendo é o filho dela, que nunca mais verá a mãe. E não se envergonhe da sua mãe, ela foi uma grande mulher e temos certeza de que sairemos daqui com a justiça feita”.

Ascom MPAL

Réu Cícero Messias da Silva Júnior saiu do tribunal preso

Matheus, filho da vítima, acompanhou todo o júri tomado de emoção. Durante a leitura da sentença, ele chegou a chorar diversas vezes.

A assistente de acusação também contestou a tentativa da defesa de descredibilizar Marcelle. “Ela tirava dela para dar aos outros. Tinha grupos de dança, de judô, para tirar jovens da criminalidade. E agora querem tratar o homicídio como se fosse algo banal?”, questionou. E completou: “Não estamos pedindo a morte dele, estamos pedindo justiça.”.

Sobre o caso

Nas primeiras horas da quarta-feira, 8 de março de 2023, Marcelle Chistine Silva de Bulhões, foi assassinada a pedradas, no Conjunto Village Campestre, no bairro Cidade Universitária, em Maceió.

Desde o início o principal suspeito do crime foi o ex-namorado da vítima, que ficou inconformado com o término recente da relação. O crime teria sido motivado por ciúmes.

Vizinhos relataram que Marcelle foi tirada de dentro de casa pelo homem, que em seguida tentou coloca-la à força dentro de um carro. Aos gritos por socorro, Marcelle resistiu e o suspeito começou a agredi-la com pedradas no rosto.

Vizinhos afirmaram que tentaram parar as agressões, mas não conseguiram porque foram ameaçados pelo suspeito. A vítima foi socorrida por populares e encaminhada a uma unidade de saúde, mas em seguida não resistiu e morreu no Hospital Geral do Estado (HGE), no Trapiche.

Reprodução/Redes Sociais

Marcelle foi morta a pedradas

O autor confesso se apresentou à polícia no dia seguinte ao crime e afirmou que se relacionava com a vítima há cerca de quatro anos e que Marcelle também mantinha uma relação com o ex-marido e, por causa disso, eles viviam em constante conflito.

Ele explicou ainda que na madrugada daquele dia agrediu a vítima dentro da casa dela, ela se trancou no quarto para tentar acionar a polícia, mas ele arrombou a porta, momento em que ela correu para rua para pedir socorro.Auando ela começou a gritar ele pegou a pedra que estava na rua e a atingiu na cabeça para que ela se calasse. Só o primeiro golpe foi suficiente para rachar a pedra ao meio.

Após fugir da cena, o homem passou o dia escondido em um canavial até se apresentar espontaneamente.

À época, os investigadores do caso não viram indícios de premiditação para o crime. Segundo os levantamentos da PC, Marcelle não chegou a prestar queixa contra o acusado.

O homem já possuía passagem pela Polícia por violência doméstica, cometido em 2018, por ofender, violentar e ameaçar a sua ex-companheira no município de Teotônio Vilela e chegou a ser preso pela Lei Maria da Penha.

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Fonte: Alagoas 24h

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