Observações do Telescópio James Webb sugerem que galáxias do nosso universo conhecido giram em uma direção preferencial, como se fossem impelidas por uma força a girar no sentido horário.
Para cientistas que observaram o fenômeno, isso pode revelar teorias cosmológicas intrigantes sobre as origens do espaço conhecido, incluindo a de que tudo o que sabemos que existe estaria contido no interior de um buraco negro.
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A observação dos movimentos das galáxias que reforçou a teoria foi publicada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society em 17 de fevereiro. Nela, o pesquisador de computação da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, Lior Shamir observou os padrões de movimentação de 236 galáxias.
O estudo revelou que duas a cada três galáxias observadas giram no sentido horário e uma minoria segue o sentido anti-horário, o mesmo da Via Láctea. Essa assimetria desafia a expectativa de que, em um cosmos aleatório, a distribuição seria equilibrada. Por isso, alguma explicação deve existir para a preferência de movimentação.
“Ainda não está claro o que faz isso acontecer, mas há duas explicações primárias possíveis. Uma delas é que o universo nasceu girando. Essa explicação concorda com teorias como a cosmologia do buraco negro, que postula que o universo inteiro está no interior de um buraco negro”, disse Shamir.
Universo giratório e buracos negros
A teoria propõe que o universo observável seja o interior de um buraco negro, parte de um cosmos maior. Essa ideia modificaria o entendimento da física, sugerindo que cada buraco negro poderia abrigar um “universo bebê”.
Os buracos negros se formam pelo colapso de uma estrela massiva que passa a condensar matéria e ganha um peso absurdo ao reunir energia. A teoria indica que, após um condensamento tão grande de massa, os processos podem chegar a se inverter, fazendo com que a massa se expanda em vez de se comprimir, gerando uma expansão semelhante ao Big Bang.
Essa teoria também implica que buracos negros seriam portais para outros universos, conectados por “buracos de minhoca”, permitindo viagens para além da física conhecida.
Impacto da Via Láctea nas observações
Mas há outra explicação, mais tradicional, para a assimetria de movimentos observada pelo telescópio. Já que a rotação da Via Láctea é anti-horária, o movimento de galáxias que andam em outra direção pode ser observado graças ao efeito Doppler da luz. Assim, a explicação seria que não há menos galáxias rodando no mesmo passo que o nosso, apenas as observamos com menor eficácia.
Anteriormente, porém, os cientistas consideravam que a velocidade de rotação da nossa galáxia era muito lenta para influenciar nas observações. “Se esse for realmente o caso, precisaremos recalibrar nossas medições de distância para o universo profundo”, diz Shamir.
“A recalibração das medições de distância também pode explicar várias outras questões não resolvidas na cosmologia, como as diferenças nas taxas de expansão do universo e as grandes galáxias que, de acordo com as medições de distância existentes, são esperadas como mais velhas do que o próprio universo”, explica.
A descoberta também levanta dúvidas sobre a idade de galáxias massivas, que parecem mais antigas que o próprio universo. “A recalibração pode explicar essas anomalias”, concluiu o professor.