Oficial da Abin adquiriu ferramenta e atrapalhou investigação, conclui PF | Foto: Agência Brasil
O oficial da Agência Brasil de Inteligência (Abin) Paulo Maurício Fortunato Pinto é uma das figuras centrais no relatório da Polícia Federal (PF) que aponta desvio de finalidade do órgão com o uso da ferramenta FirstMile, de geolocalização de celulares, e de suposto embaraçamento das investigações. Segundo informações presentes no relatório de mais de 800…
O oficial da Agência Brasil de Inteligência (Abin) Paulo Maurício Fortunato Pinto é uma das figuras centrais no relatório da Polícia Federal (PF) que aponta desvio de finalidade do órgão com o uso da ferramenta FirstMile, de geolocalização de celulares, e de suposto embaraçamento das investigações.
Segundo informações presentes no relatório de mais de 800 páginas, “o oficial foi o diretor do Departamento de Operações de Inteligência (Doint) responsável por demandar e idealizar a aquisição da ferramenta ainda em 2018”. Fortunato Pinto ocupou cargos de chefia dentro da agência nos governos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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A investigação aponta que ele continuou como diretor do Doint em 2019, quando Alexandre Ramagem era diretor-geral da Abin, época em que “já com a ferramenta comprada, ocorre o desvio de finalidade na sua utilização”, de acordo com a PF.
Fortunato Pinto permanece como diretor até 2021, quando ocorre um desentendimento com Ramagem e ele decide se aposentar.
O relatório também aponta que em 2023, já no atual governo, ele é convidado por Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin, para deixar a aposentadoria e ser o terceiro na linha de comando do órgão. Ele, então, retornou à agência de inteligência como secretário de Planejamento e Gestão, tendo sido nomeado em abril de 2023.
“Não havia, portanto, interesse da gestão que a investigação avançasse, pois iria cair diretamente sobre PAULO MAURÍCIO FORTUNATO PINTO a responsabilidade sobre a aquisição e o uso desviado da ferramenta”, destaca a PF.
Paulo Maurício Fortunato Pinto é um dos mais de 30 investigados indiciados no inquérito qie ficou conhecido como “Abin paralela”: por integrar o grupo de inteligência paralela sob a gestão Ramagem; e por suposto embaraçamento na gestão do Corrêa, que também foi indiciado, como revelou a CNN.
Fortunato foi alvo da PF na primeira fase da operação que apurou a “Abin paralela”. Ele foi afastado do cargo por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Na casa dele, foram encontrados US$ 170 mil dólares em espécie.
A CNN não encontrou a defesa do indiciado. O espaço segue aberto. A Abin informou que não vai se manifestar no momento.
INQUÉRITO DA ABIN PARALELA
Desde 2023, a PF apura o uso ilegal de ferramentas de monitoramento na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no caso que ficou conhecido como “Abin Paralela”. A suspeita é de utilização ilegal da estrutura da Abin para realizar o monitoramento irregular de autoridades públicas e ministros do STF.
Na terça-feira (18), a PF confirmou a atuação de Jair Bolsonaro pelo crime de organização criminosa. Segundo as investigações, o ex-presidente tinha conhecimento do funcionamento da estrutura, não tomou medidas para interromper a prática e a usou para se beneficiar.
O nome do ex-presidente, no entanto, não consta necessariamente na listagem formal porque ele já responde pelo mesmo crime na ação do golpe. Pelo “princípio da vedação da dupla incriminação”, uma pessoa não pode responder duas vezes pelo mesmo fato.
Já Alexandre Ramagem é apontado como o principal responsável por organizar o esquema ilegal de monitoramento. Ele ocupou o cargo de diretor da Abin durante o governo Bolsonaro.
O vereador Carlos Bolsonaro foi indiciado por chefiar o chamado “gabinete do ódio”, que teria utilizado as informações obtidas por meio da Abin paralela para produzir e disseminar conteúdos nas redes sociais com o objetivo de atacar adversários políticos do ex-presidente.
A cúpula da Abin foi indiciada por suspeitas de tentar obstruir as investigações. Em uma das fases de busca e apreensão, por exemplo, funcionários da Abin teriam ocultado computadores que, posteriormente, foram localizados e apreendidos.