A suspensão das operações da Voepass por falta de cumprimento de exigências de segurança, divulgada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na terça-feira (11), deve proporcionar impactos financeiros tanto para a empresa quanto para os passageiros em geral. É o que afirmam economistas ouvidos pela reportagem.
Entre as consequências apontadas pelos especialistas, destacam-se o aumento dos custos simultaneamente à falta de receitas da companhia, a queda na reputação e uma possível alta no preço das passagens aos clientes, diante na redução da oferta.
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Tudo isso em meio a uma crise já enfrentada pela Voepass antes mesmo da decisão da Anac e que se agravou em 2024, com o desastre aéreo que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP).
Recentemente, a empresa havia anunciado uma reestruturação financeira, além de conseguir na Justiça decisões que suspendem ações de credores e determinam depósitos em juízo por parte da parceira Latam, com quem tem um acordo de codeshare, ou seja, uma parceria que permite a utilização de aviões da Voepass por passageiros que compram pela Latam.
✈️ Como a empresa deve ser impactada?
Fábio Gomes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), destaca que o principal problema para a Voepass, neste primeiro momento, é a falta de receitas, com a paralisação da venda de passagens, e o aumento dos custos, já que precisará reembolsar os clientes.
À EPTV, afiliada da TV Globo, a Anac informou que a companhia já havia comercializado cerca de 30 mil passagens programadas para o período de março a dezembro de 2025.
“É uma equação muito difícil, porque a empresa não está gerando receita, mas tem os custos fixos, variáveis, salário dos empregados e esse custo adicional, de reembolsar o valor dessas passagens ou acomodar esses passageiros em outros voos. Qualquer empresa que tem custos, e não tem entrada de receita, vai enfrentar uma situação muito difícil”, diz.
Na petição de reestruturação financeira apresentada à Justiça, a crise da companhia começou a se intensificar com a paralisação dos voos em todo o território nacional por conta da pandemia de Covid-19.
Aa restrições, segundo o documento, causaram uma drástica perda no faturamento, que não fazia frente a despesas como os contratos de leasing, com pagamentos em dólares, para aquisição das aeronaves, além de custos com manutenção.
Diante disso, as dívidas estão orçadas em pelo menos R$ 215 milhões.
Deste montante, R$ 30.263.045,02 são referentes a débitos trabalhistas. Outros R$ 114.942.714,55 são classificados pela companhia como créditos quirografários, ou seja, de pessoas jurídicas que têm a receber da empresa, mas que, em um eventual processo de recuperação ou de falência, não têm prioridade.
Nesse cenário, Gomes prevê ainda mais dificuldades para que a Voepass cumpra as exigências da Anac e possa voltar a operar.
“Sem dúvidas [se agrava], porque não há geração de receita, e há um impacto, inclusive, na relação com os fornecedores, porque se há uma dificuldade de crédito, de receita, isso dificulta a compra de equipamentos necessários para atender às demandas da Anac”, cita.
O especialista ainda pontua os prejuízos quanto à reputação da Voepass, principalmente depois da tragédia e agora com os apontamentos feitos pela Anac.
“Nós precisamos lembrar que, em virtude do acidente, tinha um impacto sobre a reputação da empresa. Com essa nova ação, essa paralisação dos voos, também há um impacto sobre a reputação da empresa. Isso vai gerar mais dificuldade na volta das operações. Precisa ver como os consumidores vão reagir.”