Zico defendeu a redução de estrangeiros no futebol brasileiro em um seminário sobre os rumos do esporte no país, nesta quinta-feira, em Campinas, durante a primeira edição do CBC & Clubes Expo, uma feira organizada pelo Comitê Brasileiro de Clubes.
Para o ídolo do Flamengo, o número elevado de gringos atrapalha o surgimento de novos talentos nacionais.
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— O Fla-Flu tinha nove estrangeiros. Os craques de cada time são estrangeiros. O número 10 do Flamengo, do Fluminense, do Corinthians e da maioria dos times brasileiros é estrangeiro. Acabaram os 10 brasileiros — disse o ídolo rubro-negro.
— Hoje os clubes criam os jogadores desde a base para vender. Não aproveitamos mais aqui. O nosso time de 81, 11 eram da base do Flamengo. Esse é um grande problema para o futebol brasileiro. Precisamos reduzir o número de estrangeiros e trabalhar mais a base. Precisamos formar mais craques brasileiros para jogar nos times brasileiros.
O Galinho de Quintino também comentou sobre a “invasão” de técnicos de outros países:
— Eu acho que hoje em dia essa questão não é só técnico, mas muitos jogadores estrangeiros. Eu fui revelado por um técnico paraguaio e seria leviano se fosse contra isso. Mas acho que a grande culpa dessa invasão é dos próprios brasileiros. Anos atrás os técnicos brasileiros invadiram o futebol português e ensinaram tudo para eles. Os treinadores brasileiros também fizeram isso no mundo árabe e no continente asiático, além da Europa.
— Você pode reparar que nos grandes países que disputavam o ranking com o Brasil só eram técnicos nativos. Raramente você tinha um estrangeiro no comando. Isso arrebentou as raízes do futebol brasileiro. O próprio técnico brasileiro deu margem pra isso, eles não podem reclamar. A única reclamação que eles podem fazer é que os estrangeiros não precisam de muita coisa pra treinar aqui. Lá você precisava de diploma, aqui não tinha nenhuma restrição — opinou Zico.
O ex-zagueiro Ricardo Rocha, campeão mundial com a seleção brasileira em 1994 e de passagens marcantes por São Paulo, Vasco e Guarani, também participou da palestra, ao lado de Júnior, atual comentarista da Rede Globo, e fez um desabafo:
— Eu estou revoltado com o futebol brasileiro. Se a gente não mudar algo, a gente vai continuar perdendo nossos garotos para os times europeus. Hoje a garotada prefere torcer para o Barcelona do que torcer pela seleção. Ficamos 24 anos sem ganhar até a conquista da minha geração, agora estamos mais 24 e vamos ficar mais porque perdemos a nossa essência. Hoje os jogadores são aliciados para ganhar milhões a partir dos oito anos de idade, antigamente eles ficavam pelo menos até os 18. Eles vão cedo para a Europa, não aprendem a jogar da nossa forma e voltam com o estilo europeu. Também estamos cheios de técnicos estrangeiros e isso é ruim porque não temos nossa essência. Precisamos mudar isso de forma urgente.
— A CBF precisa chamar o Zico, o Júnior, o Falcão e os nossos ex-jogadores renomados para pensar em mudanças. O Dorival só vai ser respeitado lá fora — e nada contra o Dorival — se tiver um cara grande ao lado dele. Ficamos quatro anos sem marcar um gol de falta e tivemos os melhores batedores de falta que estão aí pra ajudar, gente. Eu estou revoltado porque estamos vendo o futebol brasileiro morrer e não fazemos nada. Eu sinto inveja dos outros esportes que tem um comitê para tratar dos problemas e pensar em soluções, mas no futebol isso não está acontecendo e tenho ficado triste. Hoje vem um jogador da seleção aqui, perde o jogo e nem entrevista concede. Isso é revoltante — disparou Ricardo Rocha.